sexta-feira, 21 de maio de 2010

CUME



A hora da tarde, a que põe
seu sangue nas montanhas.

Alguém nesta hora está sofrendo;
uma perda, angustiada,
neste entardecer, o único peito
contra o qual se estreitava.

Há algum coração em que molha
a tarde aquele cume ensangüentado.

O vale já está na sombra
e se enche de calma.
Mas, olha do fundo, que se incendeia
de rubor a montanha.

Eu me ponho a cantar sempre a esta hora
minha invariável canção atribulada.

Serei eu a que banha
o cume de escarlate?

Levo a mão a meu coração a mão e sinto
que meu lado jorra.

Gabriela Mistral
1889 - 1957

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