sexta-feira, 21 de maio de 2010

TREZE VERSOS







E finalmente pronunciaste a palavra



não como quem se ajoelha,



mas como quem escapa da prisão



e vê o sagrado dossel das bétulas



através do arco-íris do pranto involuntário.



E à tua volta cantou o silêncio



e um sol muito puro clareou a escuridão



e o mundo por um instante transformou-se



e estranhamente mudou o sabor do vinho.



E até eu, que fora destinada



da palavra divina a ser a assassina,



calei-me, quase com devoção,



para poder prolongar esse instante abençoado.


Anna Akhmátova - 1963

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